FICHA TÉCNICA:
MARIE ANTOINETTE, ILS ONT JUGÉ LA REINE
Produtora: ZED
Nacionalidade: França
Gênero: Documentário-drama
Lançamento: 2021
Elenco: Maud Wyler, Francis Leplay, Nicolas Chupin, Bruno Ricci
Uma nova produção sobre a vida da rainha francesa mais conhecida de todas, senão a rainha mais falada entre todas do mundo, que teve seu destino entregue nas mãos do povo. Mas desta vez, ao invés de compartilhar seus extremos gastos e sua versão fashion, se traz seus últimos dias, e sua face de prisioneira da revolução, como mulher e como mãe.
A história se abre com a execução de Louis XVI, enquanto ela está presa junto de seu filho. Aos poucos tudo lhe é tirado: suas crianças, sua imagem, sua privacidade, sua dignidade, se tornando uma peça de tabuleiro em um jogo de disputas entre os revolucionários, que deve ser, mais certamente, eliminada. Maria Antonieta incomoda a todos pelo o que ela representa: um resquício da monarquia tão odiada. Qualquer um que tente ajudá-la é um traidor.
Também vemos o pequeno filho de Maria Antonieta, Louis Carlos, sendo retirado de sua mãe e moldado para esquecer seu sangue nobre, mudando de nome e se vestindo como um sans cullote. Uma abdicação de sua vida.
A construção de provas antes do julgamento final de Maria Antonieta, nas mãos de revolucionários jacobinos, é mostrada com conteúdos obscenos, que transformaria este tribunal em algo parcial e sem seriedade. O veredito já estava dado muito antes da ex-rainha entrar no tribunal.
Entre cenas na cadeia de Conciergerie, onde Maria Antonieta permaneceu em seus últimos dias, recebendo atualizações pela metade de alguns que ainda a consideravam uma pessoa relevante, e o que acontecia fora da prisão e como sua imagem incomodava e cutucava a ferida da Revolução Francesa, o documentário vai tecendo como o futuro desta personagem foi traçado.
Quando enfim Maria Antonieta chega ao júri, uma mulher entre tantos homens, que a obrigam a declinar sua origem e seu título, entre aplausos e ofensas, o julgamento começa, e todos os personagens se encontram em um mesmo lugar, mas em posições diferentes, em 10 de março de 1793.
As mulheres a acusam, e debocham de sua figura. Testemunhos absurdos e falta de provas levam à perda de controle da audiência, além de se tornar um show de horror. Horas seguidas Maria Antonieta vê sem se impressionar. Acusações de gastos excessivos e sua fuga de Varennes talvez sejam os únicos reais. Mas o golpe baixo é a própria acusação forçada de uma declaração de Louis Carlos contra sua mãe.
A resposta da rainha em um discurso que apela às outras mães e mulheres no julgamento, se defendendo da acusação e manter relações sexuais com seu filho, é considerado seu último triunfo contra as manipulações daquele júri.
Maria Antonieta escreve sua última carta. A troca de vestes para a execução e comparada quando ela troca suas roupas no casamento para se tornar rainha da França, como se mais uma vez ela se sacrificasse. E um relógio que ela tinha desde seus 14 anos, agora não está mais com ela. O tempo se acabou. O documentário termina mostrando as salas vazias das cenas em que os personagens passaram, e retoma que os mesmos revolucionários que a julgaram também morreram na guilhotina.
"Um governo que não governava, será obrigado pelo primeiro homem forte que veio, que será Napoleão, fazendo a monarquia retornar em um império."
Por fim, minha percepção sobre este documentário é revelar a história com mais sinceridade, desvelando então as máscaras cinematográficas e romanceadas sobre Maria Antonieta.
Não, ela não foi uma boa rainha, cometendo falhas que levaria à monarquia ao fim, de certa forma. Entretanto, seu tratamento e seu julgamento foram injustos e medíocres. Ela não quis ser rainha da França. Ela não teve escolha, do começo ao fim, como rainha e como prisioneira.
Trazer essa face da Revolução Francesa com esta personagem foi algo inédito e necessário. Não à toa foi transmitido no aniversário de morte de Maria Antonieta em 2021 em Conciergerie. A questão não era sede de justiça sanguinária, mas a boa e velha política, que deturpa os julgamentos, os deixando equivocados nas linhas da História. E também não somos nós julgadores de personagens históricos como Maria Antonieta?
O filme está disponível no Youtube, tendo sido originalmente transmitido pela TV5 e Arte France. Vale a pena conferir para entender um pouco mais sobre essa personagem tão polêmica.
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