Título: Kim Jiyoung, nascida em 1982
Autora: Cho Nam-joo
Classificação indicativa: adulto
Gênero: Ficção feminina
"O mundo tinha mudado bastante, mas não pequenas regras, contratos e costumes,
o que significava que na verdade o mundo não tinha mudado nada."
Sou uma redatora publicitária, escritora e pesquisadora acadêmica. Já sofri algumas situações nas três áreas relacionadas à minha idade, origem e, somando, ao meu sexo. Digo que eu tenho três pontos fracos: Sou jovem demais para ser uma profissional sênior ou conseguir desenvolver uma pesquisa de doutorado de qualidade; sou latino-americana, logo para alguns estrangeiros meu valor é menor (para dizer no mínimo); e o fato de ser mulher agrega indiretamente mais motivos para me provar constantemente para outros.
Não, eu não sou o tipo de pessoa que faz alarde por esses fatores, estou chegando na casa dos trinta e o problema com a idade vai acabar, e já ergui minha cabeça muito mais alto que alguns gringos e colegas mais velhos na minha área. Ainda assim, sentir que preciso trabalhar o dobro para ter reconhecimento é cansativo. E muitas vezes, não temos nem para quem reclamar porque não somos do tipo que "levanta bandeiras"; simplesmente não queremos e não temos tempo para isso, afinal alguém tem que produzir e cuidar da casa, e esse alguém normalmente sou apenas eu.
É um pouco disso que o livro de Cho Nam-Joo traz, mas para a realidade da mulher moderna sul-coreana, na pele da personagem Kim Jiyoung, que de repente começa a se transformar em mulheres que conhecera em sua vida, quase como um transtorno de personalidades. Assim, a narrativa nos convida a entender, entre tantas questões sociais e culturais, o porquê delas não desejarem mais a vida de casadas e de mães, causando uma crise de natalidade em seu país.
Desde criança, a personagem vê a figura feminina sendo colocada em segundo plano: sua mãe assumindo a posição de dona de casa e abandonando o desejo de ser professora, sua irmã tendo sua profissão escolhida pelas vantagens que traria para família, enquanto o irmão mais novo poderia fazer o que queria em todos os sentidos, ao mesmo tempo que o cenário da Coreia do Sul é modificado pelo crescimento econômico e a Crise Asiática de 1997, alterando vidas independente do sexo.
Depois passa para sua adolescência e juventude, em um colégio misto, e a convivência com relacionamentos afetivos e a busca pelo futuro, a rigidez em passar em uma boa universidade e precisar se esforçar mais que seus amigos homens para conseguir uma vaga de estágio em uma agência de marketing, e ser respeitada neste lugar, mesmo recebendo um salário menor e não conseguindo uma promoção rápida.
Por último, a escolha da vida adulta de Jiyoung é se casar e se provar suficiente ao ser mãe, e com isso, abrir mão de muitos dos seus sonhos, projetos, convívios sociais e realizações sociais, enquanto não via o mesmo sacrifício por parte do seu marido. Além disso, por optar pedir demissão e cuidar da filha, a personagem passa a se ver e ser vista como uma "mãe parasita" do salário do seu marido. Todas essas informações, frustrações, momentos e sentimentos se acumulam e culminam no surto psicológico de Jiyoung.
Além da complexidade da história, para não ser questionada, a autora também utiliza de notas de rodapé para informar o leitor sobre de onde retirou as informações sobre a desigualdade social de gênero na Coreia do Sul, também precisando se provar correta e que sua personagem não é dramática, nem as experiências que coloca se afastam da realidade.
Aliás, apesar de se tratar de uma sociedade oriental-asiática, que parece distante daquelas ocidentais, alguns preconceitos e julgamentos são semelhantes, e nos fazem pensar e, no caso das leitoras mulheres, identificar os disparates também em seus próprios países ou onde vivem. Entretanto, em nenhum momento o livro dá um grito de feminismo, na minha percepção, mas pede sim a equidade de oportunidades, direitos e obrigações entre os homens e mulheres, especialmente na Coreia do Sul, que ainda enfrenta uma diferença tão gritante entre os gêneros que tem obrigado as sul-coreanas a desistirem de uma próxima geração.
Então, o que a Coreia do Sul quer dar de motivação para suas mulheres a fim de que uma próxima geração herde um equilíbrio além de desenvolvimento? Dinheiro não as tem convencido...
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