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Como Tigres na Neve

Título: Como Tigres na Neve

Autor: Juhea Kim

Editora: Melhoramentos

Classificação indicativa: Adulto

Gênero: Romance histórico / contemporâneo


"O tempo tinha o efeito de silenciar tudo,

mas jamais seria capaz de apagar algo real."


Quando comecei a assistir às séries coreanas, conhecidas como K-dramas ou Doramas, me perguntava se também não haviam livros com esta mesma linguagem, que contassem mais sobre a Coreia além das telas. E ultimamente, este meu desejo vem sendo atendido por livros simplesmente maravilhosos que recapitulam o passado deste país asiático com maestria. Um deles é este.


Os tigres estão na cultura coreana desde seu primeiro mito, que reconta a criação do país, registrada na "Memorabilia dos Três Reinos".


"Hwanung, filho dos Senhor dos Céus ,desejava viver entre os homens, e desceu na Montanha Baekdu. Nas proximidades do local, um urso e um tigre suplicaram para Hwanung para se tornarem humanos. O deus então os instruiu a comer folhas de absinto, vinte dentes de alho e evitar o sol por cem dias para terem seu desejo atendido.

O tigre desiste após vinte dias, depois de passar mal com a planta, mas o urso se mantêm fiel, e se torna uma mulher, que depois deseja um filho. Assim Hwanung se torna mortal e de junta com a mulher para gerar Tangun, o primeiro rei da Coreia."


Já nesse exemplo notamos a relação de duas figuras simultâneas: a mulher e o tigre, presentes em peso nesta história.


A autora abraça uma classe feminina extremamente marginalizada, mas ao mesmo tempo essencial culturalmente para a Coreia: as chamadas kisaegs, cortesãs e artistas, que dominavam canto, instrumentos, dança, pintura e poesia, sendo tão letras quanto as nobres, mas rejeitadas pela sociedade por também serem amantes dentro dos gibangs. Elas poderiam facilmente ser comparadas às gueixas, mas seu talento e refinamento eram maiores que as japonesas.


E a personagem principal é justamente uma jovem menina vendida para um gibang, e que deve aprender a se tornar uma kisaeng, em meio ao cenário de domínio japonês sobre a Coreia (1904-1945). E assim, se demonstra como este grupo feminino, que em muito era reprimido dentro da sociedade patriarcal neo-confucionista da época, pode fazer a diferença na história de seu país.


Além disso, o personagem masculino que contracena com nossa mocinha também traz uma discussão sobre a cena: a relação política do povo, especialmente durante a divisão das Coreias. Ele é um jovem de rua, orfão, que se apaixonada pela aprendiz, e quer provar seu valor para conseguir tê-la, e depois retirá-la do gibang para se casarem. Porém, seus sonhos juvenis logo se transformam em um embate político, onde ele, como o mais pobre, se torna o elo fraco a ser sacrificado.


Logo, com uma sensibilidade indescritível e uma minucia sobre os personagens e sua participação dentro dos pontos históricos Juhea Kim demonstra que seu romance não é sobre amor (não apenas), mas sobre resistência, além de discutir ideologia, cultura e identidade através da voz que dá aos seus atuantes. E o leitor aprecia um pedaço pouco apresentado da história coreana nas séries, pois ainda há mágoas a serem acertadas com o Japão, bem como rusgas com os Estados Unidos.


E esse é um dos livros que tem demonstrado que a literatura coreana contemporânea tem sido dominada por autoras, quebrando barreiras de gênero no país, e apresentando seu país do ponto de vista feminino, revivendo o revitalizando o passado, com seus orgulhos, mas também erros e máculas. Ou seja, as mulheres se tornam ponto de ignição na sociedade coreana, seja na ficção ou na realidade, como personagens e como autoras.


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