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O Vermelho e o Negro
Atualizado: 1 de out. de 2021
Título: O vermelho e o Negro
Autor: Stendhal
Classificação indicativa: Livre
Gênero: Clássico / Romance Histórico
"A política - continua o autor - é uma pedra amarrada no pescoço da literatura e que, em menos de seis meses, a faz submergir. A política, entre os interesses da imaginação, é um tiro de pistola no meio de um concerto. Esse ruído é dissonante sem ser enérgico. Não se harmoniza com o som de nenhum instrumento. Essa política vai ofender mortalmente metade dos leitores e aborrecer a outra metade, que a achou bem mais interessante e vibrante no jornal da manhã."

Escrito em 1830, em um momento em que Paris trazia a burguesia mais abastada, tanto na capital quanto no campo, e os jovens buscavam escrever novamente a história do país e sua própria história, Stendhal traz para a literatura francesa um marco entre a revolução e o coração: O Vermelho e o Negro.
O estilo em que a obra foi escrito já foi inovador para sua época, já que o romance narra, além dos diálogo entre os personagens, seus pensamentos sobre as situações que vivem, as pessoas com que se relacionam e a sociedade em que vivem, o que faz o leitor ter o privilégio de saber o que se passa na mente de cada um deles e se aprofundar mais no caráter e personalidade dos mesmos. É uma obra que permite a inserção de seu publico dentro da história além do que é mostrado, e traz a criação do romance psicológico.
A obra também pode ser considerada como um romance histórico, não por buscar problemas que realmente aconteciam, já que em todas as vezes que nomes de possíveis figuras reais, eles são omitidos e trocados por conde de N.... e a cidade natal do personagem principal é inventada, por exemplo (para não causar polêmicas diretas (tanto que no fim é dito pelo autor que o "inconveniente do reino da opinião é imiscuir-se no que não lhe diz respeito), mas sua historicidade está contida em retratar a sociedade burguesa no campo e em Paris após Napoleão, e como eram vistos aqueles que ainda possuíam simpatia pelo antigo império, e por aqueles que possuíam alguma relação com a nova monarquia, além de outros que não eram a favor de nenhum dos lados, além de suas próprias visões sobre os assuntos daquele momento: A revolução de 1830 (barricadas, estudantes...).
O enredo gira em torno de um personagem: Julien Sorel, um jovem rapaz, filho de um madeireiro, que inicialmente gostaria de ser soldado e fazer seu próprio caminho de glória aos moldes de Napoleão, seu grande ícone, mas no fim veste a batina de padre e se torna preceptor (professor na época) dos filhos do Sr de Renal e da Sra de Renal, figuras importantes na cidade em que vivia.
Nesse novo ambiente, Julien, mesmo que camponês, é muito instruído, e utiliza de seu conhecimento e estratégias para conquistar o favoritismo de seu patrão e o coração da Sra de Renal, que poderá lhe trazer benefícios dentro da pequena cidade, e até mesmo, posteriormente, enviá-lo para a capital, que é seu objetivo para começar uma nova vida que considera mais digna do que continuar como um padre. Só que sua sagacidade o trai por um amor pela sra de Renal, que o obriga a partir da casa antes que seja descoberto.
Em sua trajetória após a saída da casa do sr de Renal, Julien parte para Paris para servir de escrivão do sr de la Mole, um homem da antiga nobreza e que preza pelos bons modos da monarquia. Julien se mantêm firme, porém com extrema cautela em manter seu favoritismo aos opositores longe dos ouvidos de seu novo patrão. Sua surpresa nesse caso e a filha do sr de la Mole, Mathilde, que acaba se apaixonando por Julien, mas assim como ele, sabe jogar o jogo da sedução e dos interesses, o que complica um pouco a vida do rapaz.
Então Julien ganha no decorrer da história uma amante e uma esposa, amores diferentes e interesses diferentes que parecem beneficia-lo e finalmente fazê-lo alcançar seus objetivos, com uma boa vida, dinheiro, status social e uma patente. Tudo parecia perfeito, até serem pedidas recomendações de Julien para a sra de Renal pelo pai de Mathilde, o que lhe traz acusações graves.
No climax então Julien chega ao extremo da pressão dentro da sociedade em que vive, o que acaba levando para um destino final após seus últimos dias de tensão: a guilhotina.
É difícil falar sobre um livro complexo com pegadas políticas e sociais, mas é claro que existem momentos que o leitor entenderá Julien perfeitamente, e outros que ele é incompreensível, fazendo o coração bater forte em cada momento de dificuldade dele, e final, é quase que uma escolha de lados: Julien merece ou não a guilhotina? A decisão não é fácil!
A obra é um clássico que merece ser lido pela sua forma de protesto e também pela crítica social, e o conflito entre interno no coração jovem em ser o herói de sua própria história e amar verdadeiramente, ou até mesmo a tensão da paixão se findar com a mesma intensidade na morte.
Para quem se interessar, a obra já foi adaptada diversas vezes para o cinema, e recentemente (2016), para uma versão Ópera Rock na França, que é simplesmente incrível a leitura feita de um livro tão complexo.