Título: Júlia ou a Nova Heloísa
Autor: Jean-Jacque Rousseau
Editora: Hucitec e Unicamp
Classificação indicativa: Livre
Gênero: Romance Epistolar
Lembrai-vos daquela carta tão apaixonada, escrita no dia que seguiu um encontro temerário. Li-a com uma emoção que me dera desconhecida: nela não se vê o estado permanente de uma alma enternecida, mas o último delírio de um coração inflamado de amor"
Quem leu "A Rosa e o Florete" provavelmente deve se lembrar vagamente dessa obra:
"...quando já era tarde do dia, enquanto ela lia "A Nova Heloísa", de Rousseau, e Abgail bordava na sala, ouviram barulho de cavalos correndo... " (A Rosa e o Florete)
Antes de Goethe escrever "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774), Rousseau já havia escrito "Júlia ou a Nova Heloísa" em 1961, e pode-se dizer que ambos seguiram um estilo muito semelhante de escrita e tema. Mas por que ninguém lembra de Júlia?
Bom, para começar, falemos da forma de escrita da obra, que provavelmente inspirou Goethe com seu Werther. Ambas as obras são escritas simulando uma troca de cartas, essa técnica é conhecida como Romance Epistolar, só que em Werther, além de ser quase bibliográfico (pois de fato Goethe sofreu por amor e colocou sua dor em Werther), a troca é entre o personagem principal e um amigo relatando os fatos de sua dor. Já em Júlia, as cartas são trocadas entre o casal principal: Júlia e Saint-Preux.
A obra de Rousseau também é mais complexa que o livro de Goethe, e isso tem um motivo: o amor impossível pela diferença social. Ok, Goethe também trabalha essa questão em Werther (temos até uma citação em "A Rosa e o Florete" sobre isso), entretanto Rousseau aprofunda isso, afinal, é a base filosófica dele colocada na obra. Isso torna a leitura mais complicada, porém com muito mais informações que um romance de época, indo além dos costumes, na forma em que a sociedade vivia e pensava sobre relacionamentos entre pessoas de classes sociais diferentes.
Resumo da história: Cenário é a Suíça, Júlia se apaixona por seu professor, cujo nome real não é revelado, porém ele é tratado como Saint-Preux, e nas cartas que os dois amantes trocam, ele lhe conta sobre a saudades e o amor que sente por ela, e aproveita para relatar críticas sociais dos lugares que passa (inclusive uma crítica pesada à corte francesa), e lamenta por não poderem ficar juntos, já que suas posições dentro da sociedade nunca permitiriam.
Rousseau utiliza desse casal apaixonado para mostrar as consequências da distinção social, já que igualmente a Werther, o final não é feliz, porém menos trágico. Júlia se casa com outro homem por obrigação com sua família, e depois acaba falecendo, restando a Saint-Preux lamentar sua perda.
A grande diferença de Rousseau dos demais autores daquele momento é como aborda a questão sociólogica e filosófica naquela época, porém, sem perder a essência do Romance, tornando os dois pontos algo essencial para a história.
A linguagem não é algo fácil por ainda ser ao estilo antigo, entretanto para quem quer um livro interessante e com algo a mais, bem cabeça, com certeza vai se deliciar com A Nova Heloísa, e enfrentar sem medo as dificuldades da narrativa.
Ao contrário de Werther, que gerou uma onda de suicídios pela Europa, podemos dizer que Júlia fez os apaixonados pensarem sobre as convenções sociais e romperem esses padrões, já que depois da revolução francesa (1789), era permitido casamentos entre pessoas de classe diferentes. Menos mal!
Ah, uma curiosidade para finalizar: Dizem que foi em "A Nova Heloísa" que a palavra Ami/Amie foi usada para se referir a pessoa que se ama, pois na época não havia alguma palavra para essa conotação romântica.
E quem diria que romance também é filosofia...