Sempre haveria uma dama de sangue real austríaco destinada a ser arrancada de seu berço germânico e levada para uma terra distante e viver o resto da vida ao lado do herdeiro ou soberano daquela nação desconhecida, mesmo que não o conhecesse, mesmo que não o amasse, mesmo que seu coração sentisse falta de sua pátria, agora ela deveria se comportar como aqueles que agora chamava de seu povo. Como sobreviver a tudo isso? Ser uma peça de xadrez em um jogo de aliança e poder.
A familia imperial da Áustria, os Habsburgos, foi uma das casas nobres mais influentes da Europa, tendo-a em seu controle estratégico e diplomático, e sem derramar uma gota de sangue. Como faziam isso? Bella gerant alii; tu, felix Austria, nuble (Que os outros guerreiem, enquanto tu, feliz Áustria, faça casamentos.)
Era mais fácil amarrar o controle de uma casa nobre, ou melhor ainda, de uma coroa, e garantir sua proteção por um casamento arranjado, a baixa era apenas uma, a noiva ou o noivo. Cabia ao governante austríaco escolher para seus herdeiros (quanto mais, melhor), os pares que mais convinham para se aliarem, e com isso os próximos herdeiros que viriam, seriam inclusos na linha de sucessão de dois países.
A situação era sempre pior para as mulheres nascidas na casa Habsburgo, pois, primeiramente, não podiam opinar quanto ao seu casamento arranjado, nem recusa-lo. E depois que muitas vezes eram enganadas e não se adaptavam ao novo país, que agora deveriam chama-lo de seu. Dos casamentos que foram complicados, podemos citar dois, o de Ana da Áustria e Maria Antonieta, ambas casadas com reis franceses, uma com Luís XIII e outra com Luís XVI. O motivo do casório: amenizar problemas entre os países. Resultado: duas mulheres infelizes e muito o que falarem delas.
A casa real que governava a França eram os Bourbon, e que também possuíam muito poder na Europa, entretanto não sabiam ser hospitaleiros com uma nova cultura que chegava ao seu ninho, vulgo corte, em forma de noiva e futura rainha consorte.
As noivas passavam por um cerimonial em que, ao cruzar a fronteira, deveriam despir-se de toda a roupa de outro país, deixar tudo o que fosse de sua outra nação para vestir algo francês e se comportar como uma francesa. Bonito na teoria, agora na prática...
Ana foi tratada como uma troca entre os países, além de ser desprezada por sua sogra e pelo marido em seus primeiros anos como rainha-consorte...
Maria Antonieta era chamada pelas costas pela corte de "A Austriaca", com um trocadilho maldoso "Autrichienne" (Autre= outra e Chienne= cadela em francês)...
Casamentos infelizes, onde anos de demoraram para que consumassem o casamento, dificuldade para ter herdeiros, relacionamentos frios, problemas com a corte, que as desprezava, e nunca conseguiram ser realmente francesas, percebendo-se isso no sotaque que nunca sumia ... e isso em ambos os casos citados.
Valia a pena ser uma Habsburgo em em território francês?